sexta-feira, 12 de novembro de 2010

A SÉTIMA ARTE NAS ESCOLAS DO RECÔNCAVO

Desde 1971, pela Lei 5692, a disciplina Educação Artística torna-se parte dos currículos escolares. A partir dessa perspectiva existem algumas iniciativas notáveis de inclusão da arte no currículo com o intuito de contribuir para a formação estética e intelectual de crianças e jovens. Deste modo, foi criado há três anos um projeto inédito no Brasil com este objetivo: é o PROJETO LANTERNINHA- CINEMA E EDUCAÇÃO EM MOVIMENTO. Presente em escolas de dois municípios do Recôncavo baiano (Colégio Aurelino Mário em Cachoeira e Colégio Edvaldo Machado Boaventura em Santo Amaro) o Projeto Lanterninha realiza atividades de exibição de filmes quinzenalmente com o objetivo de formar platéia para o cinema nacional e posteriormente criar cineclubes nestas escolas. 

 Foto: Débora Paes

Projeto Lanterninha

Este projeto foi idealizado por Maria Carolina, profissional de cinema há dez anos, que conta que pensou em criar o Lanterninha, a partir de uma experiência cinematográfica com o filme “Pro dia nascer feliz”, de João Jardim. Ela diz que quis traduzir essa experiência na criação desse projeto. Maria Carolina, afirma que conta com uma equipe de pedagogos, comunicadores, psicólogos entre outros profissionais que, de alguma forma, estão ligados ao cinema e acreditam que a prática de leitura fílmica na escola pode ser uma forma lúdica, estética e muito eficaz de educar o olhar e  trabalhar os conteúdos curriculares com alunos de escolas públicas.
 
A experiência do Lanterninha  começou nas escolas de Salvador e continua  devido ao seus resultados – Hoje o projeto conta com oito cineclubes formados em escolas da rede estadual –Como conta Daiane Silva coordenadora pedagógica do projeto:
 
 “Acho que tem dado certo. Porque está sendo construído num diálogo permanente com a escola, com os professores, com os alunos, nós estamos tendo muito cuidado quanto aos filmes que escolhemos pra exibir, prestando atenção no perfil dos meninos e na demanda da escola. As dificuldades encontradas têm a ver com uma dinâmica institucional que possibilita uma atuação mais eficiente ou não do projeto. O lanterninha atrai os espectadores para os filmes e levam os educadores a fazerem uma reflexão sobre a educação.”
 
Clissio Santana monitor do Lanterninha reflete: “Eu acho que o lanterninha aqui no recôncavo propõe a formação do olhar à partir do cinema...de outro tipo de cinema, que não o da Globo, nem o comercial.O que gera momentos de rejeição e alguns momentos de acolhimento. Aqui tiveram momentos muito produtivos e  rolou a discussão tiveram altos e baixos mas, quando um menino rejeita um filme e acolhe outro ele já esta formando um olhar critico. O lanterninha trabalha no limite, sempre tenta somar e encontra muitas dificuldades mas isso é típico da educação brasileira é  o sistema educacional.”
 
A professora Alessandra completa: “o projeto em si é muito bom! encontramos alguma resistência porque alguns alunos não gostam ou não tem uma cultura voltada para filmes. Em contrapartida outros alunos se interessaram e me perguntavam: que dia o lanterninha vem? e também gostaram  dos debates.O projeto resgata o valor de assistir a  um filme e trocar  experiências”
Patrocinador
 
O Projeto Lanterninha é patrocinado pela Oi através do Programa de Fomento à cultura do Governo do Estado da Bahia, o Fazcultura. Contam ainda com o apoio da Oi Futuro e do IAT – Instituto Anísio Teixeira, órgão especial da Secretaria de Educação do Governo do Estado da Bahia e da Fundação Cultural do Estado da Bahia, através da DIMAS e da Sala Walter da Silveira. Muito embora o projeto já tenha reconhecimento e alcançado sucesso, Carolina afirma que infelizmente ainda não tem o apoio da Secretaria de Educação, mas a iniciativa segue firme enquanto o apoio não vem.
 
Programação
 
Os filmes exibidos nos colégios Aurelino Mário e Edivaldo Machado Boaventura foram: Pro Dia Nascer Feliz, de João Jardim; A Máquina, de João Falcão; Meninas, de Sandra Werneck, Saneamento Básico, de Jorge Furtado; Narradores de Javé, de Elianne Café; Bicho de 07 Cabeças, de Laís Bodanzky; Besouro de João Daniel Tikhomiroff, além dos curtas-metragens baianos: 10 Centavos, de César Fernando de Oliveira e Carreto, de Cláudio Marques e Marília Hughes. O projeto também marcou presença no primeiro Festival de Documentários de Cachoeira o Cachoeira Doc.
 
Prêmio:
 
O projeto Lanterninha está concorrendo ao prêmio Cultura Viva. A terceira edição do Prêmio Cultura Viva obteve 1.794 inscrições, oriundas de cerca de 750 municípios brasileiros. E o Lanterninha encontra-se entre os 40 finalistas.
                                                                                        Daiane Santiago

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

LEGALIZAÇÃO DO ABORTO DIVIDE OPINIÕES NO CAHL

A questão da legalização do aborto que vem sendo muito discutida pelas mídias, por lideranças políticas e causa muita polêmica. Pessoas com experiências diferentes esboçam opiniões adversas a respeito do assunto.
 
No CAHL- Centro de Artes Humanidades e Letras a situação não é muito diferente, professores, estudantes, funcionário falam sobre o tema. É possível perceber como as crenças, valores, conhecimentos influenciam na suas opiniões a partir dos valores de cada um. A estudante Lielza Lordelo, mãe de quatro filhos, é totalmente contra, e acha que abortar é o mesmo que assassinar. Para ela, nada justifica a interrupção de uma vida, nem mesmo as condições econômicas, pois tudo se contorna. Conta por experiência própria que teve seus filhos em condições financeiras de extrema dificuldade, mas conseguiu superar. Além disso, ressalta que aborto é uma agressão física e psicológica.
 
Valéria Reis, funcionária do CAHL acredita que toda mulher que foi levada a fazer um aborto, seja por causa emocional, financeira, ou vítima de violência passa por um trauma. Mas defende que a decisão sobre a vida da mulher só cabe a ela e não acha e deva ser criminalizada por isso. Mas, enfatiza que o aborto não deve ser utilizado como método contraceptivo. Salienta que é favorável ao aborto de forma legal e segura e que deve está atrelado a políticas públicas de contracepção e planejamento familiar.
 
Já Suzana Maia, professora do curso de Ciências Sociais é absolutamente a favor. Concorda que o aborto é uma questão de saúde pública é uma forma de controle de fertilidade, além, de uma prática anterior ás práticas contraceptivas. Diz que as concepções sobre a vida é uma discussão de crenças em que cada um tem uma específica. Para ela é um direito da mulher decidir o que fazer com seu corpo.
 
Ao contrário de Lielza, Suzana acha que o fator econômico deve influenciar sim no momento de decidir se quer ou não ter o filho. Para que esta criança não tenha uma vida miserável, porque suas mães se submeteram a tê-las em condições precárias.

Marizangela Sá  e Fabiana Dias

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

CACHOEIRADOC REÚNE CINEASTAS DE TODO O PAÍS EM CACHOEIRA

Está acontecendo até o dia 11 de novembro o I Festival de Documentários de Cachoeira- CachoeiraDoc. O festival abriga três circuitos: a Mostra Competitiva Nacional, a Mostra de cinema sem Fronteiras e a Mostra Clássicos do cinema. Durante a semana serão exibidos 41 filmes entre curtas e longas-metragens. O festival conta ainda, com ciclo de conferências, oficinas e homenagem a diretores nacionais. O evento reúne pesquisadores e cineastas de várias regiões do país. Na mostra competitiva haverá premiação de R$ 4 mil para o melhor longa-metragem e R$ 1 mil para o melhor curta-metragem. O festival acontece no Centro de Artes Humanidades e Letras – CAHL da UFRB.
De acordo com Amaranta Cesar, idealizadora e coordenadora do evento, a expectativa é que Cachoeira se torne um ponto de encontro do cinema documentário alcançando destaque no cenário nacional. Um dos objetivos é que o festival aconteça anualmente possibilitando uma participação das comunidades de Cachoeira, de São Félix e de cidades vizinhas. Visa gerar uma troca de conhecimentos em que seja aproveitado tudo o que será produzido, debatido e visto durante o festival.

Cidade cinematográfica

Cachoeira foi escolhida para sediar o festival, não por acaso. Além de abrigar o curso de Cinema e Audiovisual da UFRB, o que tem contribuído para que a cidade se transforme num lugar de pensamento, produção e difusão do cinema, Cachoeira é uma cidade que possui uma paisagem cenográfica, cinematográfica. Esse foi mais um motivo para a cidade celebrar a produção documental nacional e internacional.
A idealizadora afirma que Cachoeira tem recebido professores, alunos e pesquisadores que querem fazer cinema e construir uma cidade onde o cinema seja algo muito importante. O festival conta com a presença de cineastas como Philipi Bandeira, do Ceará; Marcelo Pedroso, de Pernambuco; Vladimir Seixas, do Rio de Janeiro; e pesquisadores como Henrique Dantas, de Salvador; André Brasil, de Minas Gerais; Cezar Migliorin, do Rio de Janeiro. As atividades da programação do CachoeiraDoc são gratuitas e a organização preza muito pela participação da comunidade.

Programação de 09 a 11/11

09 de novembro (terça-feira)

9h - Mesa-redonda: Os povos indígenas no documentário brasileiro
11h - Mostra Bahia: A visão de dentro (Sophia Mídian, Bahia, 2009, 52’)
14h - Mostra Competitiva: Eu, Turista (Guto Parente, Ceará, 2010, 18’)
          Aeroporto (Marcelo Pedroso, Pernambuco, 2010, 22’)
          Pacific (Marcelo Pedroso, Pernambuco, 2009, 72’)
16h30 - Homenagem a Geraldo Sarno
             Mostra Clássicos do Real: Viramundo (Geraldo Sarno, Brasil, 1965, 37’)
             Viva Cariri! (Geraldo Sarno, Brasil, 1970, 36’)
             Eu carrego um sertão dentro de mim (Geraldo Sarno, Brasil, 1980, 14’)
 20h - Homenagem a Geraldo Sarno
          Sessão Especial: O Último Romance de Balzac (Geraldo Sarno, Brasil, 2010, 74’), com a presença do diretor Geraldo Sarno


10 de novembro (quarta-feira)

9h  - Painel: Música e invenção no documentário
11h - Mostra Bahia: Batatinha, Poeta do Samba (Marcelo Rabelo, Bahia, 2008, 62’)
14h - Mostra Competitiva: 7 voltas (Rogério Nunes, São Paulo, 2009, 19’)
         Um Lugar ao Sol (Gabriel Mascaro, Pernambuco, 2009, 71’)
16h30 - Lançamento do Livro: Autor e autoria no cinema e na televisão (Salvador: Edufba, 2009), organizado por José Francisco Serafim
18h - Mostra Cinema Sem Fronteiras: Amsterdã Aldeia Global (Johan van der Keuken, Holanda, 1996, 245’)


11 de novembro (quinta-feira)

9h - Mostra Recôncavo: A Força de um Grito (Edson Silva de Jesus, Bahia, 2008, 15’)
Cantador de Chula (Marcelo Rabelo, Bahia, 2009, 95’)

11h - Mostra Recôncavo: Omi Orisá - Lendas e Mitos do Rio Paraguaçu (Lucas Reis, Bahia, 2010, 20’)
A Devoção Pede Passagem (José Antonio Gondim Rangel, Bahia, 2010, 9’)
Memórias do Recôncavo: Besouro e outros capoeiras (Pedro Abib, Bahia, 2008, 54’)

14h - Auditório
Mostra Competitiva: O sarcófago (Daniel Lisboa, Bahia, 2010, 20’)
Filhos de João, Admirável Mundo Novo Baiano (Henrique Dantas, Bahia, 2009, 75’)
16h30 - Mostra Cinema Sem Fronteiras: A Ferida (La Blessure, Nicolas Klotz, Bélgica/França, 2004, 162’)
19h15 - Intervalo
Lounge
 20h - Premiação
Sessão de Encerramento: Uma Noite em 67 (Ricardo Calil e Renato Terra, Rio de Janeiro, 2010, 85’), com a presença do diretor Ricardo Calil.

Fabiana Dias

FESTIVAL DE DOCUMENTÁRIOS AGITA CACHOEIRA



CACHOEIRA – Acontece no CAHL – Centro de Artes, Humanidades e Letras – da UFRB o CachoeiraDoc, I Festival de Documentários de Cachoeira. O evento que está sendo realizado desde o dia 5 e vai até o dia 11 de novembro, apresenta mostras de filmes, ciclos de conferências e oficinas para estudantes da área de audiovisual. De acordo com os organizadores, o objetivo do festival é contribuir para a afirmação e renovação da tradição documental, despertando no seu público a reflexão sobre os vários temas apresentados.
A abertura do festival foi realizada na Praça da Aclamação com a exibição do filme “Nanook do Norte”, de Robert Flaherty, considerado o primeiro filme documentário de longa-metragem de sucesso internacional onde é mostrada a vida de uma família de esquimós. A apresentação contou com a presença do conjunto Nanook Ensemble executando a trilha sonora.
Além dos documentários, o CachoeiraDoc traz mesas redondas onde serão discutidos temas como cinema e educação, os povos indígenas e música, e ainda o lançamento do livro “Ensaios no Real, o documentário brasileiro hoje”, organizado por Cezar Migliorin. Nos intervalos das mostras, o público conta com um lounge montado no foyer do auditório do CAHL.
O último dia do evento será dedicado ao Recôncavo com as mostras “A Força de um Grito” de Edson Silva de Jesus e “Cantador de Chula” de Marcelo Rabelo, às 9hs na Sala de Reuniões. No mesmo local às 11hs serão apresentadas as mostras “Omi Orisá – Lendas e Mitos do Rio Paraguaçu” de Lucas Reis, “A Devoção Pede Passagem” de José Antonio Gondim Rangel e “Memórias do Recôncavo: Besouro e outros capoeiras” de Pedro Abib.

O festival vai ser encerrado no dia 11 com a exibição de “Uma Noite em 67” de Renato Terra e Ricardo Calil, filme que trata do festival de música brasileira que mudou os rumos da música popular brasileira.

Sheila Barretto

ARTISTA E POETA RONY BONN DECIFRA CONFECÇÃO ARTÍSTICA NO RECÔNCAVO

A existência de grandes escritores e poetas na literatura nordestina não é novidade, mas desde Gregório de Matos vive-se o conflito entre a necessidade de divulgação e a falta de leitores locais devido ao baixo índice de educação. Segundo dados recolhidos pela UNICEF em 2001, em Cachoeira, 53% nos pais de alunos matriculados na Rede Pública de Ensino, tinham de três a quatro anos de estudo. Ainda assim, há muitos poetas produzindo com seriedade e dedicação, sem a preocupação de que haverá ou não leitores. Os poetas são movidos pela necessidade de vida, como afirmou Ronny Bonn, artista plástico e poeta, nascido e criado na periferia de Cachoeira, que como demonstração do amor à arte afirma que “assinatura é uma bobagem” e que determina o valor das suas obras mediante apego; já vendeu caro e já deu de graça.

Rony Bonn, que hoje é tido como um dos expoentes da nova safra na região, aos poucos foi convivendo com artistas entrincheirados nos centros culturais da cidade e mostrando que também sabia versejar. Em H menor, Bonn traz uma inquietação universal: “A minha magreza/Não é problema de inanição/A questão/De fato/É que há coisas que não dá para engolir”. Bonn diz que a arte é poderosa, que suas obras são originais, atemporais e revolucionárias transmitindo um realismo muitas vezes doloroso. Utiliza os mais diversos materiais que por vezes seriam considerados lixo para construir seus quadros, explora o breu, o grosso, poluente e o relevo. Afirma-se um artista pobre e reconhece sua arte como válvula de escape, “Só sei que me sinto bem mexendo com as palavras”, comentou.

Como poeta participou em 1992 da Antologia Quadrado Poético, tem participado de diversos encontros literários, destacando-se no 2° Caruru dos Sete Poetas; Sambando na Poesia e Poesia Ouvida. Como artista plástico participou em 1988 com a série CAMPO MINADO, exposição coletiva do Solar Ferrão-Salvador; 7° Bienal de Arte do Recôncavo com a obra Depois de Cristo, no Centro Cultural Dannemman (2004), São Félix, neste mesmo ano expôs na Casa do Maranhão e na Universidade Federal do Maranhão, em São Luis; em 2008 com ZYLON B, resina e óleo sobre tela, participou da 9° Bienal de Arte do Recôncavo- Centro Cultural Dannemman, São Félix. Embora já tenha reconhecimento cultural, teve várias obras recusadas, onde julga ter sido “incompreendido”, e ainda não tem nenhum livro publicado, situação que se depender da atuação dos integrantes da arte do recôncavo, deve mudar no futuro, por mais que ele pareça incerto.

Quando interrogado sobre se a cidade de Cachoeira atendia suas necessidades e expectativas artísticas, disse que sim, quando há possibilidade de expor artes em recitais, saraus e encontros que proporcionam divulgação e premiação. “Cachoeira é uma cidade histórica onde há uma transição de gringo e onde quer que a gente vá quem dá valor a nossa arte é a gente”, comenta Bonn, quando comparando a cidade com Salvador, onde morou por algum tempo e preferiu voltar. Sobre a importância do reconhecimento de leitores e admiradores regionais reconhece que ficaria mais feliz com a interação e valorização dos conterrâneos, vendo uma mobilização maior nos jovens dessa geração.

O jornalista e poeta alagoano radicado na Bahia José Inácio Vieira de Melo, organizador da coletânea Concerto lírico a quinze vozes, lançada em 2004, obra que reúne trabalhos de diversos nomes do interior baiano disse: “O que vejo entre os novos poetas das cidades do Recôncavo, todos com a sensibilidade aguçada pela herança africana que se espalhou nas margens do Paraguaçu, mas que nunca perdem a conexão com o resto do mundo, é uma necessidade de mostrar o tipo de arte que estão fazendo. E eles estão conseguindo, pouco a pouco”. (Fonte: Correio da Bahia, Caderno Repórter de 18/03/2007 - http://terreirocultural.multiply.com/journal/item/8)

Laís Sousa

A ESTREITA RELAÇÃO ENTRE JORNALISMO E LITERATURA

Os textos literários ganham cada vez mais espaço, prova disso é o crescimento constante dessas obras nas adaptações para as telas de cinema e televisão que tem levado muitas obras memoráveis ao conhecimento de um público maior; sem contar nas letras de músicas que são inspiradas em poemas riquíssimos de nossa literatura, muitos são integralmente cantados por grandes nomes da música brasileira. Contudo, não é só nas áreas de entretenimento que a literatura mostra sua influência. O jornalismo, que é por excelência o meio confiável de informar aos cidadãos, também pode beber da fonte da literatura, é o chamado Jornalismo Literário.

 O professor do curso de jornalismo do CAHL, Carlos Ribeiro, explica esse tipo de jornalismo dizendo que em Jornalismo Literário, o substantivo é a palavra jornalismo, então, significa que ele tem a ênfase no jornalismo. Ele tem que estar ligado com acontecimento de interesse público, de interesse jornalístico. Mas o tratamento que se dá a esse texto pode ter uma linguagem literária no sentido de um romance, por exemplo. Pode contar uma história, e mesmo assim não perderá o valor jornalístico.

JORNALISMO E LITERATURA

 Esse tipo de jornalismo pode usar uma linguagem metafórica, trabalhar com descrição, falar de sensações, sentimentos e dos pensamentos dos personagens. Tudo com uma liberdade bem maior. O jornalista está preso ao fato, ao acontecimento, àquela coisa que ele está informando e noticiando, mas quando ele dá o tratamento literário, aprofunda mais as questões, faz um movimento no sentido de mergulhar nas causas, de contextualizar as informações, de humanizar.

Para Carlos Ribeiro, humanizar é uma palavra muito importante. Com a linguagem literária, o jornalista humaniza, torna o texto mais interessante ao leitor. Potencializa, por meio da linguagem literária, os significados contidos nos acontecimentos, porque em cada acontecimento temos uma quantidade de coisas que ficam fora da mera informação.

 Por exemplo, a notícia diz que “Fulano de tal matou a mulher”, mas se formos contar a história das motivações daquilo, a história que está por detrás, que está na sombra daquele acontecimento, vamos enriquecer muito mais o texto. Esse tipo de tratamento nos permite aprofundar uma questão, compreender o acontecimento como um fenômeno social, como fenômeno psicológico.


Aline Sampaio

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

TRAÇOS BEM DEFINIDOS DA ARTE DE DINA GARCIA

Dina Garcia é uma cruzalmense autodidata nas artes plásticas, que possui um estilo autodefinido como “fovista”. A artista já participou de grandes exposições, incluindo a coletiva “Rouge Ébene”, no Museé Municipal dês É Maux em Bongwy Haut, na França, em 2006 e a IX Biebal do Recôncavo, de 2008, no Centro Cultural Dannemann, em São Félix- Brasil. Na entrevista abaixo, Dina conta um pouco da sua história e da sua arte.

JQ: Você define a sua arte como “fovista”. Explique quais são as características desse estilo.
DG: O estilo fovista não tem uma ligação com formas acadêmicas. É um estilo bem solto, é mais voltado para as cores. É um estilo mais instintivo. Não tem aquilo de você fazer um desenho perfeito. É uma mistura do expressionismo, do cubismo, ou seja, uma mistura. Você utiliza cores mais alegres e bem soltas, não tem muita ligação com formas corretas.

JQ: Quando você descobriu o gosto pelas artes plásticas?
DG: Quando fiz magistério eu fazia cartazes e ampliava os desenhos. A partir daí eu achei que tinha jeito para desenhar. Mas bem antes, desde criança, sempre quando brincava de escola eu já desenhava. Eu ficava copiando os desenhos das revistinhas da Turma da Mônica e gostava de desenhar casinhas. O gosto pelo desenho, o gostar de pintar, já existia desde pequena.
JQ: Qual foi sua reação quando viu o seu primeiro trabalho pronto?
DG: O meu primeiro quadro foi “O barco”, quadro que eu pintei em uma tarde. Eu não fiz faculdade, mas fiz curso livre, e aí um professor perguntou: ‘Como você pinta um quadro em uma tarde, você é o The Flash?’. Isso porque pintei bem rápido e fiz esse barco em tela, porém, eu já havia pintado a lápis de cera, bem forte, depois coloquei moldura. Na época fiz até uma exposição na Biblioteca Municipal com meus primeiros trabalhos.
JQ: Com relação a arte, qual a sua visão quanto ao público cruzalmense?
DG: Eles me deixaram muito surpresa. Inicialmente eu não mostrava meus trabalhos aqui. Fiquei surpresa porque eles compram as camisas que pinto. Acho que eles gostam de arte, porque todo mundo quer ter uma, ate os que não entendem, gostam do meu trabalho e fazem elogios. Antes eu tinha receio de expor porque tenho uma pintura diferente, uma pintura a vontade, ou seja, não é uma pintura acadêmica que todo mundo vai entender.

JQ: Qual foi o fato que mais marcou a sua vida artística?
DG: Ter sido selecionada na Bienal do Recôncavo de 2008.

JQ: Pode-se perceber em seus trabalhos a presença de flores, baianas, uma infinidade de formas, mas o que você mais gosta de pintar?
DN: Eu gosto muito do nu feminino. Acho a mulher bonita, é um tema muito bom para se pintar. Gosto também dos caipiras, apesar de pintar pouco, porque a maioria das minhas exposições em Cachoeira é com telas de baiana e temas afro, mas adoro pintar o caipira, o homem do campo. Gosto também de pintar objetos, como uma mesa, a cadeira, o vaso, enfim.

JQ: Qual a importância da cidade de Cachoeira em sua vida artística?
DG: Total. Tudo de importante que me aconteceu foi em Cachoeira, apesar de ter começado aqui pintando com o lápis de cera. Em seguida fui para Salvador e foi lá que comecei. Fiz cursos livres no Palácio da Aclamação, oficina de desenho e pintura e depois comecei a colocar minhas telas lá no Pelourinho, onde também fiz minha primeira coletiva. Vendi telas pequenas feitas na hora no meio da rua, sentava lá, pintava e vendia ali mesmo. Em Cachoeira tive minha seleção para a bienal. Participei de várias exposições. Quer dizer, isso antes de eu vender camisas, porque agora a venda das telas diminuiu, mas não foi só pra mim, foi para todos os artistas também. Mas antes eu vivia do dinheiro das minhas vendas em Cachoeira, então quando Deus fecha uma porta ele abre outra, aí surgiram as camisas. A minha vida artística toda é mais em Cachoeira.

JQ: Onde as pessoas podem encontrar o seu trabalho?
DG: Eu mantenho exposições permanentes em Cachoeira, no Pouso da Palavra, no IPHAN, no Empório, na Pousada do Carmo, no sebo Café com Arte. Em todos esses lugares as pessoas podem encontrar minhas obras de arte.

JQ: Quais são os obstáculos que um artista plástico enfrenta?
DG: A venda. O valor do trabalho, muitas vezes é desvalorizado. As pessoas querem abaixar o preço. Acho que gostar de arte é uma coisa e dá o valor que realmente ela vale é outra. Gostar aqui as pessoas até que gostam, mas valorizar é o mais difícil. Se você vendesse, você teria mais recursos para fazer outras coisas. Claro, é bom que todo artista tenha um patrocínio, mas eu sou tão individualista quanto a isso que nem busco, acho que eu mesmo tenho que fazer. Cada um faz sua parte. É claro que se eu tivesse um patrocínio, que investisse em mim, seria bem melhor. Espero um dia encontrar, mas se não acontecer eu vou abrindo meu próprio caminho.

JQ: O que você sente quando vê a admiração do público com relação ao seu trabalho?
DG: Eu fico feliz porque amo o que faço.

Jordane Queila