segunda-feira, 8 de novembro de 2010

ARTISTA E POETA RONY BONN DECIFRA CONFECÇÃO ARTÍSTICA NO RECÔNCAVO

A existência de grandes escritores e poetas na literatura nordestina não é novidade, mas desde Gregório de Matos vive-se o conflito entre a necessidade de divulgação e a falta de leitores locais devido ao baixo índice de educação. Segundo dados recolhidos pela UNICEF em 2001, em Cachoeira, 53% nos pais de alunos matriculados na Rede Pública de Ensino, tinham de três a quatro anos de estudo. Ainda assim, há muitos poetas produzindo com seriedade e dedicação, sem a preocupação de que haverá ou não leitores. Os poetas são movidos pela necessidade de vida, como afirmou Ronny Bonn, artista plástico e poeta, nascido e criado na periferia de Cachoeira, que como demonstração do amor à arte afirma que “assinatura é uma bobagem” e que determina o valor das suas obras mediante apego; já vendeu caro e já deu de graça.

Rony Bonn, que hoje é tido como um dos expoentes da nova safra na região, aos poucos foi convivendo com artistas entrincheirados nos centros culturais da cidade e mostrando que também sabia versejar. Em H menor, Bonn traz uma inquietação universal: “A minha magreza/Não é problema de inanição/A questão/De fato/É que há coisas que não dá para engolir”. Bonn diz que a arte é poderosa, que suas obras são originais, atemporais e revolucionárias transmitindo um realismo muitas vezes doloroso. Utiliza os mais diversos materiais que por vezes seriam considerados lixo para construir seus quadros, explora o breu, o grosso, poluente e o relevo. Afirma-se um artista pobre e reconhece sua arte como válvula de escape, “Só sei que me sinto bem mexendo com as palavras”, comentou.

Como poeta participou em 1992 da Antologia Quadrado Poético, tem participado de diversos encontros literários, destacando-se no 2° Caruru dos Sete Poetas; Sambando na Poesia e Poesia Ouvida. Como artista plástico participou em 1988 com a série CAMPO MINADO, exposição coletiva do Solar Ferrão-Salvador; 7° Bienal de Arte do Recôncavo com a obra Depois de Cristo, no Centro Cultural Dannemman (2004), São Félix, neste mesmo ano expôs na Casa do Maranhão e na Universidade Federal do Maranhão, em São Luis; em 2008 com ZYLON B, resina e óleo sobre tela, participou da 9° Bienal de Arte do Recôncavo- Centro Cultural Dannemman, São Félix. Embora já tenha reconhecimento cultural, teve várias obras recusadas, onde julga ter sido “incompreendido”, e ainda não tem nenhum livro publicado, situação que se depender da atuação dos integrantes da arte do recôncavo, deve mudar no futuro, por mais que ele pareça incerto.

Quando interrogado sobre se a cidade de Cachoeira atendia suas necessidades e expectativas artísticas, disse que sim, quando há possibilidade de expor artes em recitais, saraus e encontros que proporcionam divulgação e premiação. “Cachoeira é uma cidade histórica onde há uma transição de gringo e onde quer que a gente vá quem dá valor a nossa arte é a gente”, comenta Bonn, quando comparando a cidade com Salvador, onde morou por algum tempo e preferiu voltar. Sobre a importância do reconhecimento de leitores e admiradores regionais reconhece que ficaria mais feliz com a interação e valorização dos conterrâneos, vendo uma mobilização maior nos jovens dessa geração.

O jornalista e poeta alagoano radicado na Bahia José Inácio Vieira de Melo, organizador da coletânea Concerto lírico a quinze vozes, lançada em 2004, obra que reúne trabalhos de diversos nomes do interior baiano disse: “O que vejo entre os novos poetas das cidades do Recôncavo, todos com a sensibilidade aguçada pela herança africana que se espalhou nas margens do Paraguaçu, mas que nunca perdem a conexão com o resto do mundo, é uma necessidade de mostrar o tipo de arte que estão fazendo. E eles estão conseguindo, pouco a pouco”. (Fonte: Correio da Bahia, Caderno Repórter de 18/03/2007 - http://terreirocultural.multiply.com/journal/item/8)

Laís Sousa

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