sábado, 27 de novembro de 2010

UNIVERSITÁRIOS CONCILIAM O ESTUDO COM SEUS CONHECIMENTOS RELIGIOSOS

Segundo os dados da arquidiocese de São Paulo, setenta e três por cento da população brasileira é adepta do catolicismo. Contudo, esse percentual vem caindo a cada ano, cerca de 600 mil fiéis deixam a igreja. Na última pesquisa oficial do assunto, em 19991, o IBGE- Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas apontou que 83% dos brasileiros eram católicos. O protestantismo é a religião que mais cresceu desde os anos 60. Na pesquisa do IBGE, eram 12,6 milhões, aproximadamente 9% da população brasileira. O candomblé e a umbanda são as principais religiões afro-brasileiras. Eram 648,5 mil adeptos, 94% da população em 1991 passando 1,5% em 1999. O espiritismo reunia em 1991 1,6 milhões de seguidores, chegando a 2001, de acordo com a federação Espírita do Estado de São Paulo, a 4 milhões de seguidores.

Falar de religião não é fácil, pois essa discussão acaba entrando em terrenos mais pessoais como fé identidade a até mesmo cultura. O Brasil é conhecido por sua diversidade, o que é observado também no campo religioso. No CAHL não é diferente, com um total geral de alunos ativos de 1076, visível uma grande variedade também no que diz respeito à religião alunos que tentam conciliar seus conhecimentos religiosos com os adquiridos nos anos de estudo.


Palavra de Deus como centro


O estudante de história, Alfredo Pinto da Silva Junior, é católico, e afirma que sua religião tem como centro a palavra de Deus, a bíblia sagrada, e Jesus Cristo como único senhor e salvador, dando também, especial veneração a Maria, mãe de Jesus. Sua decisão de ser católico se deu por influência da mãe quando ainda era criança, mas, hoje, é uma opção pessoal, tanto é que agora considera mais católico que muitas pessoas em sua casa. Inclusive, assume muitas funções na religião: coordenador da pastoral da juventude e membro da Pastoral Universitária-PU.

Conta que já se sentiu discriminado, tanto por parte de alguns professores, quanto de estudantes que não respeitam a opção religiosa dos católicos e, até, das demais religiões. Percebe uma tentativa dos professores de mostrar uma determinada falsidade ou falta de credo da religião. Dessa intolerância religiosa demonstra o preconceito que muitas pessoas têm a respeito das crenças do outro. Diz respeitar a opção dos que se dizem ateu, porque assim como ele tem um ponto de vista e quer respeito, eles também merecem consideração, desde que haja um respeito mútuo.

Quanto aos estudos na faculdade, Alfredo acha que sua religião não atrapalha em nada, pois consegue manter sua identidade enquanto religioso, enquanto pessoa, e a competência, uma determinada imparcialidade na pesquisa científica e no respeito às convicções, crenças e ideologias diferentes e até contrárias às suas.


Coerência

Antonio Caldas, aluno de comunicação, é seguidor do espiritismo. Para ele, o espiritismo consiste basicamente na caridade humana, espiritual e material, além de acreditar que a reencarnação é a principal motivação para evolução humana, só através dela pode se reparar os erros de outras vidas. Não foi influenciado por ninguém a seguir essa religião, sua opção se deu por sentir-se bem e por lhe agradar. Mesmo freqüentando há pouco tempo, é assíduo, vai toda a semana. Encontrou no espiritismo a forma mais coerente para responder as questões espirituais.

Assim como Alfredo, Antonio também já se sentiu discriminado. Acredita que isso se dá por conta do preconceito da própria religião, por ser discriminada por pessoas que não têm conhecimento, devido à grande demanda do catolicismo. Essa religião já foi até nomeada como doutrina de louco, até por que o espiritismo não tem símbolo, e sim ícone, o que pode chocar pela interpretação bíblica. Entretanto, na Universidade não sofreu discriminação, pois não divulga sua opção, porém, diz que provavelmente sofreria, porque a Universidade é baseada nos conhecimentos científicos. Então quando a pessoa foge disso é conhecida como fraca em busca de salvação e que inventa um Deus.

Consegue conciliar muito bem os conhecimentos e os de sua religião, pois o espiritismo tem três pilares: filosofia, ciência e espiritismo, o que é benéfico para a compreensão de certos temas. As leituras do espiritismo são profundas e bem trabalhadas, por isso ajuda no seu desenvolvimento acadêmico, principalmente na prática da leitura. O espiritismo é uma religião sem dogmas, então não há tantos conflitos, ele consegue encontrar todas as respostas, até mesmo as cientificas, nos seus estudos, as questões são expostas de forma aberta, não fica preso aos símbolos, até porque o livre arbítrio é o centro para quem esta lá.


A fé como centro

Uma das representantes da religião evangélica no CAHL, Rosania Laranjeira da Silva. Vê sua religião como uma questão de fé, de experiência pessoal, mas, no geral, a definiria como um caminho de conhecer a Cristo. A religião evangélica, para ela, mostra a verdade bíblica de forma mais seria mais clara e dá a chance da pessoa interpretar e de usar a interpretação da bíblia. Mesmo não dando para dizer que não manipula, afinal de conta existem muitas discriminações, acha que a igreja evangélica não é tão manipuladora.

Decidiu ser evangélica lendo uma bíblia velha da avó. Depois de ter freqüentado o centro espírita, a igreja católica, umbanda. Nesse tempo, continuou lendo a bíblia, após visitar todas as igrejas evangélicas, escolheu uma para congregar. No mais, o que a fez ter certeza da existência de Deus e a influência dele em sua vida, foram às experiências pessoais com um Deus presente, não com um Deus distante como tinha aprendido. Aprendeu que Deus era de longe, mais ele é tão pai e tão amigo.

Nunca se sentiu discriminada, embora, nas aulas se condene a religião. Não acha certo professor fazer isso, pois em um país democrático, devemos respeitar todas as pessoas, também a religião. Por serem duas coisas bem diferentes, consegue conciliar os estudos e a religião. A fé está relacionada com o espiritual das pessoas embora muitas vezes essa manifestação seja neutralizada como, por exemplo, a cura, que era uma coisa extremamente pessoal, com reflexo de fé.

E a questão intelectual e o conhecimento não têm nada a ver com a inteligência de um ou de outro. Não tem dúvidas que as suas contribuições não vão interferir em nenhum conhecimento teórico e nem esse conhecimento em sua fé, em sua crença.


Raízes do candomblé


Já a aluna Luanda, aluna do terceiro semestre do curso de ciências sociais é adepta do candomblé. Diz que a sua religião consiste na centralidade africana e nos orixás. Escolheu seguir essa religião por opção própria. Não sofreu nenhuma influência por parte de seus familiares. Ressalta que procurava uma religião que tivesse a ver com sua história, o candomblé foi a que mais chegou próxima por ser uma religião africana.

Enfatiza que sofreu bastante preconceito na Universidade por parte dos alunos. Para ela, eles não gostam muito do candomblé devido à religião ser baseada na cultura africana e as pessoas praticantes, na sua grande maioria, serem negras. Acha isso bizarro, até mesmo porque a cidade de Cachoeira tem fortes raízes do candomblé e da cultura africana.

Na faculdade as manifestações em torno do candomblé se dão mais no campo cultural do que do espiritual, devido à grande massa de alunos católicos e evangélicos. Porém, está satisfeita no meio que esta e não se importa com os preconceitos. Diz que sua religião não atrapalha nos seus estudos, pelo contrario, ajuda principalmente nas aulas de antropologia.

Aline Sampaio
Marizangela de Sá

Um comentário:

  1. muito bem colocado este assunto, religião adorei a materia parabems.

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