quinta-feira, 28 de outubro de 2010

MUDANÇAS NOS HÁBITOS DE JOVENS QUE TÊM FILHO SEM PLANEJAMENTO


Segundo o Ministério da Saúde, a ampliação do acesso de mulheres e homens à informação e aos métodos contraceptivos é um dos movimentos mais importantes para que se possa assegurar a prática dos direitos reprodutivos no país. Todavia, mesmo com informações e métodos oferecidos, muitos jovens são pegos de surpresa com uma gravidez indesejada. A partir daí, suas vidas passam por uma grande mudança.

A Síntese de Indicadores Sociais do IBGE de 2007 apontou que a proporção de jovens de 15 a 17 anos com filhos estava em 6,3 %. De acordo com o Ministério da Saúde, 40 % das adolescentes que tem filho, voltam a engravidar em três anos. O Brasil mostra uma infeliz realidade. A cada ano, um milhão de adolescentes engravida sem desejar.


Ser mãe na adolescência

 Taiane Almeida Santos, por exemplo, tem 22 anos e é mãe de um menino de três anos. Relata que ao se dar conta de que estava prestes a ser mãe, sentiu-se bastante insegura, pois não sabia nem trocar fraldas. Não tinha nenhuma independência em relação aos pais. Esse foi um momento de confusão, ainda não tinha se dado conta da responsabilidade de ser mãe. Mesmo com o apoio do pai da criança, continuou vivendo com os pais, pois não tinham condições de morar os três juntos.
No início, teve muita preocupação em relação aos gastos, mas ficou confortada ao perceber que seus pais não a abandonariam. Foram eles que se preocuparam com os mínimos detalhes. Nos primeiros momentos, precisou muito da ajuda da mãe. Era ela quem dava banho e trocava as fraldas, em que observava tudo e aos poucos foi aprendendo. Depois de 15 dias do pós-operatório, já fazia tudo sozinha, com uma facilidade inexplicável. Convenceu-se de que ser mãe é um dom.

Confessa que hoje tem outros olhos diante do futuro. Antes se preocupava com coisas fúteis. Reconhece que amadureceu muito. Claro que para isso deixou de lado a vida de adolescente. Não ia mais às festas como antes, agora tinha que assumir o papel de proteger uma nova vida. Como mãe, pretende proporcionar o maior suporte para que seu filho estude, tenha uma atividade de lazer, que se envolva com pessoas boas e que seja repleto de conquistas.

Larissa Alves de Carvalho, 23 anos, é mãe de uma menina de 8 anos. Diz ter recebido a notícia com maturidade, pois ainda não tinha pesado as conseqüências. O problema foi como a família recebeu a notícia, todos ficaram perplexos, pois ela tinha apenas 14 anos. No fim, acabaram apoiando. O que não a impediu de se preocupar financeiramente, já que nem ela, nem o pai da criança trabalhavam. Mas no fim das contas, contaram com a ajuda de suas famílias.

Precisou abandonar a escola, pois o médico aconselhou bastante repouso. Na época estava cursando o 1º ano do Ensino Médio. Mesmo tendo feito o pré-natal certinho, passou por problemas sérios de saúde. Teve hipertensão gestacional e pré-eclampsia. Esses problemas fizeram com que ela tivesse o bebê antes da data prevista. Depois que sua filha nasceu, suas noites foram conturbadas, pois não tinha experiência de cuidar de um bebê, não se sentia preparada., mas contou com a ajuda da mãe.

As mudanças ocorridas foram a falta de liberdade, o aumento da responsabilidade, a falta de experiência, a dificuldade de continuar estudando nos primeiros anos de vida da filha, pois precisou trabalhar para ajudar nas despesas, o atraso dos sonhos, como, por exemplo, cursar uma universidade. Depois de tudo isso, tem as melhores expectativas para o futuro de sua filha. Pensa ser um exemplo sobre o que não fazer. Não que ser mãe tenha sido ruim, mas houve um atraso em sua vida em relação aos outros jovens. Quer ensiná-la como superar as dificuldades.

Dificuldades são as mesmas

Diferente das outras duas, Lísian Emannuella Silva de Oliveira, 24 anos, mãe de uma menina de 9 meses, vive em união estável com o pai de sua filha. Relata que, receber a confirmação de que estava grávida foi maravilhosa, pois sempre quis ser mãe. Curtiu muito cada sintoma da gestação, enjôos, que antes pensava ser invenção das mulheres, a barriga crescer, o nenê mexer, era tudo muito incrível. A ultra - som morfológica era surpreendente. Cada dedinho, cada órgão visto, não tem palavras para descrever. Costumava dizer que engravidaria várias vezes, mas toda moeda tem dois lados, e, agora que pariu, está pagando caro por uma gravidez não planejada.


Passado os primeiros dias, em que a casa estava cheia de parentes e amigos e vivia o encantamento de ter uma criatura pequenina sob sua responsabilidade, percebeu o tamanho da obrigação que parece ser exclusivamente dela. Amamentar, dar a papinha, trocar fraldas, banho, consolar, cuidar de casa sozinha, das roupinhas, tudo é sua obrigação. Em meio a tantas tarefas, há nove meses que não consegue ler nada, não estuda, não dorme uma noite completa, assim como não pode acordar mais tarde. Não pode sair sozinha.


Ainda bem que conseguiu concluir a faculdade de Letras Vernáculas, mas por não poder trabalhar, não tem como pagar uma especialização. Pensava que teria tempo para ela, o que foi um engano. Não tem tempo nem de fazer as unhas, cuidar de si, ser a dondoca que sonhava ser. Sua bolsa de sair é a sacola da garotinha  com as fraldas e os demais pertences dela. Todos os planos ficaram para depois que a filha crescer, enquanto isso, ela sente que ficou para trás, principalmente profissionalmente. Tem dias que tudo parece está ainda mais distante de se transformar.


Contudo, ser mãe cedo é viver outra vida, a vida da criança. Sem direito a reclamações, pois ainda corre o risco de ouvir coisas do tipo “você quem quis isso”, “ser mãe é isso mesmo, sofrer no paraíso”, “é sua obrigação e não de seu esposo”, “estudo fica para depois, tem tempo”, quando na verdade adiou seu tempo, ou antecipou o tempo de ser mãe.


O lado bom da moeda é que ama sua filha e, às vezes, se pega observando-a com carinho engatinhando em sua direção, chorando, implorando para colocá-la para dormir. O lado ruim é que sonhou ter três filhos, hoje, não quer nem sonhar com outra criança, mais um sonho perdido.

Aline Sampaio

Um comentário:

  1. Situação complicada.. Assunto interessante, gostei.
    Só uma dúvida, as três são da UFRB?

    Beijos

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